domingo, 23 de agosto de 2009

2008 - Eleição a prefeito de São Pedro da Aldeia

Escrito em 5 de outubro de 2008

A eleição a prefeito de 2008 teve novas regras para, segundo a Justiça, tentar diminuir a influência do poder econômico. Se a proibição de out-doors, boca-de-urna e dos showmícios permitia que os candidatos sem recursos financeiros ficassem (teoricamente) em condições de igualdade nesses “quesitos”, quem dispunha de mais verbas pôde utilizar outras formas de propaganda como adesivamento de carros, placas diversas, bandeiras, carros de som, “pesquisas”, impressos (incluindo folhetos, santinhos, jornais e plano de governo), carreatas, programas eleitorais de rádio e TV, para divulgar suas mensagens e demonstrar a força e o peso de sua campanha aos eleitores. Destaca-se, positivamente, a campanha da Justiça Eleitoral no rádio e na TV sobre a importância do voto. Porém, ela não corrigiu a injustiça da permissão de participação do pleito dos candidatos ficha-suja.

Em São Pedro da Aldeia, a falta de TV, a audiência relativa das duas rádios locais, a falta de debates e os parcos recursos financeiros de pelo menos dois candidatos (12 e 13) garantiram a tranqüilidade das eleições, mas não permitiram à população conhecer devidamente as propostas, os conceitos e as questões fundamentais da disputa, fato que gerou uma certa apatia dos eleitores aldeenses com o pleito municipal.

As campanhas

Em todas as campanhas foi possível encontrar erros e falta de iniciativa das coligações em disputa. Vamos aqui apontar algumas das mais importantes, em nossa concepção. E, por participar da campanha de uma dessas coligações, creio ser possível avaliar, mais detalhadamente, a campanha do candidato Chumbinho 13.

A campanha do candidato do PMDB, Carlindinho 15, teve mais estrutura, recursos, maior volume, melhor comando e uma boca-de-urna descarada, garantida pela completa omissão do TRE. Apesar de sua coordenação ter cometido um erro conceitual grave, “por sorte” ele não foi muito explorado pelos seus adversários.

Uma importante pesquisa qualitativa feita pelo IBOPE para definir o conceito geral da campanha e o discurso do candidato 15 parece ter negligenciado a seleção das pessoas contratadas. Pessoas “comprometidas” com o candidato deram respostas irreais sobre o governo anterior do candidato e, outros contratados para a pesquisa, talvez com medo de retaliação, não tiveram coragem para falar o que realmente pensavam.

O resultado foi o infeliz slogan principal da campanha: “Carlindinho fez, Carlindinho faz” que abria a guarda para o seu principal ponto fraco e poderia ter jogado por terra todo o esforço da coligação Respeite São Pedro (outra denominação infeliz) caso os adversários soubessem explorar devidamente essa deficiência. Afinal, quem morou na cidade, de 1997 a 2000, sabe que Carlindinho fez um péssimo governo e foi considerado pela revista Isto é, em 2000, o segundo pior prefeito do Rio de Janeiro.

Inicialmente, Carlindinho não deu a importância devida ao rádio, repetindo alguns programas eleitorais onde lia seguidamente suas propostas de governo. Mas esse erro foi sanado parcialmente, depois, com a utilização dos programas e comerciais para tentar, inclusive, corrigir o erro conceitual primário de sua campanha, relatando as ações que ele “teria feito” em seu governo.

Comparando a música dos candidatos podemos dizer que tanto Carlindinho quanto Chumbinho conseguiram fazer os melhores jingles. Porém, a música de Carlindinho, ao bater constantemente o conceito de que “ele fez e que faz” dava margem a uma resposta (a conhecida música “não fez nada, não fez nada”, do Tiririca) que, porém, não foi, praticamente, utilizada pela campanha de Chumbinho, por conta de uma “dissidência na coordenação” que convenceu o candidato a evitá-la. Já a música de Iédio Rosa não conseguiu empolgar o povo e, por ter “a cara” do “PDT naftalina”, reforçou um conceito que ele deveria ter escondido e não ressaltado.

A Campanha de Iédio Rosa 12 (PDT) não deu a mínima importância aos programas eleitorais no rádio, o que foi um grave erro. O candidato fez apenas um único e monótono programa durante todo o período eleitoral que repetiu constantemente sua baixa qualidade, reforçando o conceito de um candidato obsoleto e avesso à tecnologia e à comunicação. De baixo custo de produção, os programas de rádio não poderiam ter sido negligenciados dessa maneira. De positivo, o corpo-a-corpo incansável do candidato do PDT, em busca do voto de seus antigos e possíveis novos eleitores.

A coordenação de Iédio Rosa demorou a perceber e “responder” a um dos conceitos da campanha de Chumbinho 13 que insistia no mote “candidato ficha-limpa”. Somente no final de setembro Iédio Rosa fez mensagem dizendo que ele também era ficha-limpa. Como Carlindo era o candidato ficha-suja e Chumbinho o ficha-limpa, para o povo, se Iédio não se dizia ficha-limpa perdia a oportunidade de se colocar diretamente contra Carlindinho e ainda deixava parecer que também tinha a ficha-suja.

A Campanha de Chumbinho 13 teve como conceito a “renovação” política (com responsabilidade e transparência). Tão importante quanto esse conceito era colar o nome de Chumbinho ao mais importante cabo eleitoral da atualidade: o presidente Lula, o que foi feito constantemente.

A reação de Carlindo foi anunciar o apoio do governador Sérgio Cabral que quebrou o acordo com o presidente e gravou um depoimento de apoio específico a Carlindo Filho.

A campanha de Chumbinho utilizou plenamente o rádio colocando no ar um programa eleitoral diferente a cada dia. Desde o início, os comerciais diários, de 30 segundos, negligenciados pelos outros candidatos, foram utilizados constantemente para divulgar os conceitos da campanha de Chumbinho 13. Um quadro cômico (Papo de Comadre), usando dois personagens (duas comadres), apresentou com humor os problemas das candidaturas de Carlindo Filho e Iédio Rosa, respectivamente apelidados de “nada-nada-fez” e “Tédio Rosado”.

Os erros que “custaram” a “derrota” de Chumbinho 13

Foram muitos os erros que comprometeram a campanha de Chumbinho.

1) “Parte da coordenação” convenceu o candidato a não exibir um vídeo contundente que mostrava de forma irrefutável o fiasco do governo Carlindo Filho de 1997 a 2000.

2) O candidato não quis contratar uma pesquisa para demonstrar o que já se sabia: Iédio Rosa estava em último lugar e Chumbinho seria a única opção para vencer Carlindo, fomentando o voto útil, decisivo para a sua vitória.

3) O candidato retirou das ruas a mensagem que dizia que Carlindo era ficha-suja e estava impugnado pela Justiça Eleitoral.

4) A música “não fez nada, não fez nada”, do Tiririca, também não foi utilizada por decisão do candidato e de uma “parte da coordenação” que evitava a todo custo carimbar o candidato do PMDB como ficha-suja.

Várias ações, ainda, foram abortadas por falta de experiência e ação, excesso de autoritarismo e prepotência do candidato Chumbinho, e também pela limitação de recursos ou emprego errado desses mesmos recursos que ficaram, de forma equivocada, sob a gerência única do candidato.

Apontamos, ainda, como errada a atuação de “parte da coordenação” que conseguiu evitar, o tempo todo, o ataque a Carlindo e insistiu no embate visceral a Iédio Rosa (movido por querelas pessoais) e que, inclusive, deu margem a processo criminal* contra o então candidato ficha-limpa, manchando o conceito construído desde o início da campanha.

(*o caso da carta contra Iédio Rosa “assinada” por Chumbinho)

À suposta “coordenação da campanha”, representada, principalmente, pelos presidentes dos cinco partidos faltou união, inteligência e ação para contornar o totalitarismo e o distanciamento do candidato que evitava participar das reuniões de campanha e “tomou para si” a gestão da fase final da campanha.

Meu palpite para o resultado: de um total de 51856 eleitores, tirando os ausentes (cerca de 15%) Carlindo deverá ser eleito com aproximadamente 17 mil votos, 41% dos votos válidos (se esses chegarem a 41 mil votos, excluídos os brancos e nulos).

Chumbinho deverá ser o segundo colocado com 35% dos votos válidos, aproximadamente 14 mil votos, e Iédio Rosa será o último colocado, com 24% dos votos, aproximadamente 10 mil votos.

Desde o início, os participantes da campanha de Chumbinho apostaram na renovação e na rejeição a Carlindo, como pontos que dariam a vitória ao candidato do PT. E garantiam, inclusive, que Chumbinho só perderia a eleição para ele mesmo.

E, ao final, foi exatamente isso que aconteceu. A inexperiência e a atitude desmotivadora e autoritária do candidato, a aplicação errada dos recursos financeiros, a inércia, a falta de visão e as ações “estranhas” de “parte da coordenação da campanha” fizeram Chumbinho chegar em segundo lugar.

Ricardo Cox - São Pedro da Aldeia, 05 de outubro de 2008.

O resultado oficial: Carlindo 16323 votos Chumbinho 14302 votos Iédio Rosa 9602 votos (40227 votos válidos)

Um comentário:

Clovis Eduardo disse...

Resumidamente, creio que o Jornalista soube, com maestria, relatar a campanha do candidato mais controverso que já existiu em SPA. Creio que, em suas teimosias e crises de autoritarismo, o candidato chegou a superar até mesmo os velhos sarcófagos da sociedade política aldeense. Olha que, pelo menos, os relatos da campanha do Chumbinho pode resultar em um livro intitulado:
Perca uma eleição ganha para si mesmo.

De um candidato que é capaz de colocar fora da coordenação de campanha o grupo que se empenhou em ganhar-lhe a legenda do Partido dos Trabalhadores, não é alguém que se deve esperar atitudes diferentes.

Sabe o atacante recém chegado ao time e que, por causa de um drible bonito que deu numa partida anterior, é escalado para o jogo e que segue pelo meio de campo, recebe a bola nos pés do companheiro do time, de cara pro gol, só ele e o goleiro, chega na hora e dá um bicudo pra fora? Não é um bicudo qualquer pro Gol, mas um bicudo pra lateral. Pra galera. Então, esse se chama Chumbinho.